TRAJETÓRIA – UM GUIA DE TURISMO QUE NASCEU PARA ISSO

TRAJETÓRIA – UM GUIA DE TURISMO QUE NASCEU PARA ISSO

Talento é algo inato, Isto é, inerente ao ser, não se adquire depois, não pode nascer porque já vem com a gente. Quando nascemos a Natureza sempre nos premia com talento para alguma coisa. É claro que se tivermos boas oportunidades e soubermos aproveitá-las poderemos ser um sucesso em qualquer atividade. Afinal, existe o preparo através do conhecimento técnico. Imagina quando o sujeito já nasce predestinado e ainda tem dois berços privilegiados.

Matias Liz dos Santos, o mais completo guia de turismo de Lages, trouxe uma habilidade empreendedora de dois berços: o dos pais biológicos e o dos pais adotivos. Pessoas que influenciaram sua vida: a mãe biológica, Margarida Ribeiro de Liz e o pai, Leopoldino Ferreira dos Santos; a mãe adotiva, Dona Ana Souza Ramos (Tia Aninha) e o pai, Virgílio Ramos, ex-prefeito de Lages.

Da família original, herdou a vontade de crescer na vida e de estudar. Na família que o adotou, encontrou as condições ideais para estudar e uma vivência em diversas viagens.

Deu no que deu: Matias Liz dos Santos foi de guri entregador de jornais e revistas a um dos mais brilhantes guias de turismo e palestrante de agenda cheia na área.

Ao longo da vida fez bem feito desde entregador de jornais e revistas, servente de pedreiro, remador de canoas de passeio de namorados no Tanque, vendedor de produtos alimentícios de animais, vendedor da Minusa, funcionário da prefeitura, o mais perfeito guia de turismo e brilhante palestrante em atendimento ao turista.

 

Matias Liz dos Santos nasceu no Correia Pinto Velho, quando o atual município era distrito de Lages, no dia 13 de novembro de 1946. Filho de Leopoldino Ferreira dos Santos e Dona Margarida Ribeiro de Liz.

Um dos oito filhos do casal (duas mulheres e seis homens) ainda criança de colo mudou-se com a família para ser agregado na localidade de Corredeira, São José do Cerrito. Mais tarde se mudaram para uma serraria no interior do Cerrito, localizada no terreno de um tio, irmão da mãe, Walmor Ribeiro de Liz.

A mãe tinha vários irmãos, um deles Antoninho Nogueira de Liz, morador antigo da Rua Presidente Rouswelt, com a Rua Marechal Deodoro, fundos do Castagana, casado com Dona Graçulina. Esse tio incentivou seus pais e a vir para Lages para dar melhores condições aos filhos para não se criar matutos do sítio, dizia ele.

Seu Leopoldo trazia produtos típicos para vender no Mercado Público Municipal: porco carneado, peixe, feijão, queijo, charque entre outros.

 

Até que procurou um terreno, adquirindo uma boa área. Em parte construiu sua casa e o restante dividiu com parentes por parte da esposa. Onde hoje é o barro Copacabana, Visconde de Mauá com Mateus Junqueira. Construiu uma casa de madeira bruta (tábuas largas) e trouxe a família.

 

A mudança era tão pequena que coube naquele espaço do caminhão reboque. O Matias, aos quatro anos, trouxe o seu banquinho de estimação sobre a mudança. A filha mais nova mal caminhava. Quanto aos irmãos mais criados, estes foram para o serviço braçal ganhar a vida e estudar, uma tradição na família.

 

Surge, então, a Tia Aninha – Dona Ana Souza Ramos – casada com José Fórmolo, de Caxias do Sul, que viuvou e se casou com o ex-prefeito Virgilio Ramos. Sabendo das dificuldades da família, Tia Aninha decidiu adotar o Matias, que passou a morar na Rua Correia Pinto, onde hoje está a Jaqueline.

 

Matias estudou no Colégio São José, onde hoje é o Shopping Gêmini. De lá foi para o Colégio Diocesano e depois para Escola Técnica de comércio Santo Antônio.

 

Tia Aninha não deixava faltar nada ao garoto. Porém, já pensando como empreendedor, trabalhava na entrega de jornais e revistas; vendia maçã argentina do Empório de onde também entregava compras.

 

Trabalhou como engraxate na sapataria Airton Melin. Lá já contava histórias do Tanque, de Lages e nossos causos típicos. Foi a primeira manifestação de suas habilidades naturais para o turismo.

 

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O Gondoleiro dos namorados no Tanque

 

As primeiras manifestações de habilidades naturais do Matias para se comunicar e lidar com o público já começaram a se manifestar no Tanque, como remador de passeios de namorados no lago e imitando os gondoleiros de Veneza, cantando clássicos italianos.

 

Facilidade de expressão oral, tendências artísticas e esperteza são elementos básicos para um bom relacionamento com o público. Aí Matias iniciava o que é hoje: Guia de Turismo e palestrante.

 

Foi no Bar e Choperia do Seu Antunes, num prédio de dois pavimentos e tradicional point da juventude de então. Seu Antunes alugava canoas aos freqüentadores do Bar para passeios com as namoradas. Conforme o consumo o passeio era de graça, uma atração a mais no Bar.

 

O Matias, especialista em remo nas pescarias com o pai, logo se ofereceu para remar e liberar as mãos dos casais para os carinhos do namoro. Inspirado no cinema e nos artistas cantores começou a imitar os Gondoleiros de Veneza/Itália. Enquanto remava, ensaiava cantar clássicos como Santa Luzia, Sole Mio entre outros.

 

Mas cantava tão mal que ofereciam 50% a mais ao serviço pra não cantar: – “Não canta, só rema”, diziam os casais de namorados. Nessa atividade ganhou experiência e desenvolveu o talento natural para se comunicar e conviver com o público.

 

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A origem da carreira no turismo

 

 

Na adolescência o Matias chegou a ser mais conhecido por José. Ele explica: a mãe adotiva trocou meu nome com base na bíblia. Está na escritura que Judas foi substituído e eram dois os candidatos: Matias e José. Escolheram Matias. Mas, Tia Aninha optou por José.

 

A profissão de Guia de Turismo pode ter origem logo na adolescência. A família viajava muito com o garoto a cidades como Trombudo Central, Rio do Sul, Blumenau, Florianópolis, Curitiba, Caxias do Sul e Porto Alegre.

 

Nosso entrevistado contou que nessas cidades saia sozinho observando as referências para não se perder. E aproveitava para divulgar as nossas comidas típicas, a cultura, os costumes, a história e já contava os causos regionais.

 

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Preocupação com os irmãos

 

Já aos 13 anos o Matias já ganhava bem com os biscates. Todo o produto do trabalho entregava para a mãe biológica, dona Margarida, que cuidava dos outros irmãos.

 

Nessa época o pai retornou ao sítio para produzir e vender no Mercado Público Municipal. Seu Leopoldo foi um exímio produtor de fumo de corda (Amarelinho e Guarapuava) que embalava em taquara para levar a Paranaguá, de onde era exportado como “O Fumo do Seu Leopoldo”.

 

Como seu objetivo era melhorar de vida e pagar suas próprias despesas, decidiu arranjar emprego fixo. Ao passar por uma construção, viu um cartaz pedindo servente de pedreiro, já com o valor por hora. Calculou rápido e concluiu que ganharia mais que o dobro do que já ganhava.

 

Com já tinha carteira de trabalho de menor, apresentou-se e foi contratado na hora devido seu histórico de trabalho e sua desenvoltura na comunicação.

 

Sabendo disso, Tia Aninha não autorizou trabalhar. Você tem tudo aqui, já ganha com teu trabalho, por que enfrentar trabalho pesado? Pode atrapalhar os estudos, argumentou a mãe. Mas não houve jeito, desobedeceu e mesmo contra a vontade dela foi trabalhar.

 

 

É que ele queria ter o orgulho de consumir aos finais de semana e pagar com seu dinheiro, sem depender de mesada. Logo passou a freqüentar o Bar Marrocos, em 66, o cinema… Já circulava entre a juventude, pois tinha porte alo, parecendo adulto.

 

 

O inicio da Carreira profissional

 

Após a experiência na construção civil, Matias foi viajante da Bayer do Brasil, após um curso em Curitiba sobre Técnicas Veterinárias. Voltou a Lages aguardar uma vaga definitiva em outro Estado. Nessa época, Tia Aninha já havia falecido. A mãe biológica não aceitou ele ir para os estados do Pará e Goiás, como vendedor da Bayer aos criadores de búfalo.

 

Atendendo a um apelo dramático da mãe, desistiu da Bayer e foi ser vendedor viajante da Minusa Trator Peças, em toda a Região Sul. Trabalhou no Laborbrás/Tabor na comercialização de defensivos e produtos alimentícios para animais em Curitiba.

Tirou o primeiro lugar em vendas em SC e o 5º Brasil.

 

Já nessa época levava cartazes e coisas típicas, espalhando-os pelos hotéis por que passava. Foi mais um sinal de que no futuro viria a ser profissional no turismo.

 

A família teve de se mudar para São Bento do Sul e depois voltou pra Lages. De tantas idas e vindas, sentiu-se cansado da vida de viajante e começou a pensar num emprego por perto.

 

Foi ai que entrou pra vida pública. Muito amigo de Tadeu Astrogildo Steink, então Secretário de Administração de Dirceu Carneiro, sabedor de suas habilidades pessoas e preparo, o Tadeu recomendou sua admissão no Departamento de Turismo da Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Turismo. O diretor era Júlio Lorenzatto. Em pouco tempo, já estava dando as cartas e saindo de mão.

 

Como sempre, o Turismo não é prioridade dos políticos, que não entendem que essa atividade, na verdade, é uma “indústria sem chaminé” que não polui e trás divisas, emprego, renda, impostos e desenvolvimento sustentável.

 

Logo Matias viu que o Departamento era pobre em atendimento ao turista. Começou a criar seu próprio material de divulgação, mostrando as potencialidades da cidade.

 

Procurou a Gráfica Muller, onde recebeu apoio para os primeiros impressos. Na correção dos textos, contou com a ajuda dos professores: Sérgio Sartori, Pedro Gasperin e colegas professoras.  Teve o apoio do Kao da Foto Líder e se acervo. O sucesso foi tanto que logo surgiram vários patrocinadores do setor.

 

Com a ajuda dos hotéis e do Sindicato dos Bares e Restaurantes, veio farto material de divulgação e o Matias foi parar no Centro de Informações Turísticas do Calçadão.

 

Veio a Administração Paulo Duarte, que trouxe Adonis Zimermann para dar novo impulso ao Turismo, com mais profissionalismo. A Secretária da Educação era Nilda Carnevalli. Nas primeiras reuniões da recém criada Comissão Municipal de Turismo, constatou-se que era preciso segurar o turista por pelo menos mais um dia em Lages.

 

Ficou decidido fazer um estudo das potencialidades e logo entraram as fazendas como atrações potenciais para fortalece a cidade como destino turístico e não apenas uma pousada de excursões.

 

Após algumas reuniões para lançamento da ideia, surgiu a primeira Fazenda de Turismo Rural: Pedras Brancas, de Júlio Ribeiro Ramos. Em seguida vieram: a Fazenda do Barreiro, do Boqueirão, Aza Verde, Ciclone e outras.

 

Os produtos turísticos da região sempre tiveram um forte apelo nacional: clima frio, geada, neve e verões agradáveis; rica em gastronomia típica, cultura, história, mais a figura do homem da fazenda. A ideia era fazer com que o visitante se sentisse o fazendeiro por um dia.

 

Logo os hotéis começaram a receber reservas para excursões conhecer essa nova modalidade de destino turístico. Estava inventado o Turismo Rural. No início alguns fazendeiros não aceitaram muito bem a ideia, temendo que assustasse o gado e as ovelhas.

 

Com a criação da SERRATUR, veio o fortalecimento da Festa do Pinhão, iniciativa de Araci Paim. E Lages chegou a ser a Capital Nacional do Turismo Rural.

 

Devido à projeção nacional do Turismo Rural, Lages virou referência. O Matias representou o Turismo Rural na programação do Projeto “Noites Catarinenses”, idealizado pela Santur.

 

Devido ao sucesso, Matias representou Lages e o nosso Turismo em vários Estados: São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro e RS. Chegou a ser citado em eventos de projeção nacionais como o melhor guia de turismo de Santa Catarina. Hoje ele é palestrante de atendimento ao turista em vários pontos do País, inclusive na Argentina, na cidade de São Tomé.



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