É compromisso de todos fazer sua parte para ajudar instituições públicas e civis a acolher quem ainda não deu certo na vida.
O fato é que nos acostumamos com a vida que levamos, quer na solidão da mansão, quer na solidão da meia água, quer na vida sem eira nem beira.
Como diz Ariano Suassuna, “o cachorro gosta de filé. Mas como só lhe damos osso, ele come osso”.
Se o cão se conforma, já não ope o caso de muita gente que não é valente o suficiente para enfrentar esta batalha diária que é viver. Muitos até se livram da própria vida, coisa divina e a essência de tudo.
Mas o fato é que ninguém amanhece dormindo na rua porque quer. Pode até ter feito essa escolha. Mas garanto que a culpa não é só dele.
Ninguém nasce, neste mundo, porque quer. Alguém foi o autor desse projeto. Então, se alguém acabou sem eira e nem beira, foi por que houve uma porção de culpados.
Ainda bem que este ser humano aí da foto encontrou uma eira e até uma beira para descansar de sua longa jornada diária em busca da sobrevivência. Méritos para ele por optar em continuar vivendo. Muitos não são valentes o suficiente.
Se apenas restou ao cidadão ai a quincha da rua para encostar a fronte e dormir, pode ter certeza que não foi só culpa sua. Pode ter sido culpa do berço [sua família] que por sua vez pode ter sido vítima do sistema cruel que exclui e abandona.
E não falamos aqui nos excluídos e pobres de recursos manterias e sim de excluídos de recursos humanitários e de atenção devido ao egoísmo e a ganância do sistema social.
Portanto, se a você coube uma vida tranquila, abastada e feliz, graças a sua luta bem sucedida, lembres-se, no entanto, que todos também tem sonhos e projetos na vida. Mas, se você que teve uma boa escola fundamental, depois uma grande Universidade como sua, oportunidade essa bem aproveitada, parabéns! Você venceu!
Mas pode ter certeza que se a vida nos dá grandes oportunidades, o sistema tira de algum lugar ou de alguém o financiamento disso. E até pode ser a razão de milhares de criaturas acabar só com a rua.
Cuidar deles é responsabilidade do poder público. Mas você também pode fazer sua parte. Talvez apenas de forma educativa ou na forma de conscientização. Talvez apenas observando melhor em sua volta. Percebendo que existem semelhantes, por exemplo!
Ah! E quando você estiver dirigindo seu carro confortável de uns R$ 60 mil pra cima e alguém estiver atravessando a faixa, enxergue esse alguém. Ele deve estar na luta por uma vida melhor do que a que lhe restou.
Se você está bem situado porque venceu na vida, tenha apenas essa sensibilidade que já estará valendo a pena, estará fazendo a sua parte por um mundo melhor. E aí sua vida, com certeza, será bem melhor.
No caso de quem escreve, provavelmente Deus já lhe deu o suficiente e quase tudo o que queria. Talvez até mais do que mereceu: oportunidade de estudar, saúde e alguma inteligência. Mas, principalmente, lhe deu a capacidade de perceber seu entorno. Deu-lhe a habilidade para em 20 minutos escrever este comentário.
É o que revela o autor deste post: logo após capturar a foto, numa rua central da cidade, aproveitou que o tema ainda estava quentinho, talvez tão “quentinho” quanto o concreto que restou para o personagem da foto repousar e foi criando as frases e as relacionando à cena. Ao chegar à redação, o texto já estava pronto, só faltava escrevê-lo.
Cenas como essa se pode dizer que são os ciscos que ficam presos nas malhas da cidade grande. Se entes como esse já são normais e o compreensível em concentrações humanas {cidades} temos o dever e o compromisso humanitário de ajudar a cuidar deles. Cada um a sua maneira, o jornalista procurando conscientizar, o que já quase dispensa algo material. Salvar uma estrela do mar do levada ao sol faz a diferença àquela. Mas motivar legiões e procurar salvar a todas dos milhões de metros de raia é bem melhor.
Muitas vezes o Jornalismo é o último recurso que resta ao cidadão. Após terem se esgotadas todas as instâncias convencionais, procuram o jornalista para tentar reparar uma injustiça. Nem que seja amanhecendo dormindo na rua para que jornalistas os enxerguem.
Já disse Érico Veríssimo, em sua obra Olhai os Lírios do Campo. “De que adianta construirmos arranha céus, se daqui um pouco não teremos seres humanos para colocarmos dentro deles?” Quase um século e meio depois, já cansamos de ver essa realidade.
ERON PORTAL
Texto: Eron J Silva
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